sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Asia Bibi, Sakineh e Yousef Nadarkhani são apenas parte de um jogo de interesses

Recentemente lancei no De Olho na Jihad a seguinte questão:

Diante da condenação da católica paquistanesa, Asia Bibi, porque não há uma mobilização para libertá-la, assim como ocorreu com Sakineh e agora com Yousef Nadarkhani?

Recebi algumas repostas por email e pelas redes sociais, e pude constatar que a maioria pensa exatamente da forma que penso quanto aos esforços de governos ocidentais em prol de iranianos com Yousef Nadarkhani, Sakineh e Mina Ahadi.

Primeiramente preciso responder há alguns mais alterados, que não estou duvidando das boas intenções dos protestantes que estão tentando salvar seu irmão de fé, não estou menosprezando a vida de Yousef Nadarkhani, pelo contrário, louvo vossas reações contra esse regime islâmico sanguinário (perdoem o pleonasmo). Não sou anti-americano, admiro os EUA, mas também não sou tomado de um americanismo cego, portanto, dessa vez ao invés de defender criticarei.

Para uma melhor compreensão, temos que ter em mente as seguintes questões:

  • O conflito dos EUA e seus aliados com o governo Iraniano, devido ao programa nuclear persa.
  • A necissadade dos EUA em manter uma relação amigável com o Paquistão, para continuar o combate ao Talibã e a al-Qaeda.
Se levar-mos as relações acima em conta, perceberemos que Yousef Nadarkhani, Sakineh Asthiani e Asia Bibi são meros coadjuvantes nesse conflitos.

O raciocínio é simples:

Quando os EUA e seus aliados criticaram o governo iraniano no caso Sakineh e agora com Yousef Nadarkhani, eles apenas aproveitaram a oportunidade para desmoralizar o governo islâmico persa (algo que nem é preciso) e conseguir mais condenações e sanções. Mas, não por estarem preocupados com a vida dos dois iranianos, mas por estarem de mãos atadas diante da continuidade do programa nuclear do Irã.

Em contrapartida, os EUA e aliados, necessitam do Paquistão para combater a Al-Qaeda e o Talibã. Por esse motivo, não vemos ações em prol da vida de Asia Bibi, pois a relação com o governo paquistanes sempre foi conturbada, e uma exigência de libertação da cristã, colocaria fogo no país dominado pelo radicalismo muçulmano.

Ou seja, os direitos humanos são apenas parte de um grande jogo de interesses.

E enquanto isso, Asia Bibi continua aguardando a forca.

Deixo abaixo a entrevista da ativista iraniana Mina Ahadi, onde ela fala justamente o que tenho abordado. Vejam:

JOÃO COSCELLI , ESTADÃO.COM.BR - O Estado de S.Paulo

A presidente do Comitê Internacional Contra o Apedrejamento, a iraniana Mina Ahadi, lidera campanhas contra as punições previstas nas leis islâmicas, caso de sua compatriota Sakineh Ashtiani, condenada à morte por adultério no Irã. Ao Estado, a ativista critica o Ocidente por demonstrar pouco interesse em discutir a situação dos direitos humanos nos países em que vigora a lei islâmica, mas mostra confiança de que as revoltas no mundo árabe trarão mudanças nessas práticas. A seguir, os trechos da entrevista:

Obs: A primeira resposta abaixo, pode ser contestada.

O apedrejamento é encarado como parte da cultura islâmica?

O Islã surgiu como religião há séculos e sempre fez parte da vida dos países árabes e do Irã, mas esse é um problema mais recente. Há algumas gerações, as pessoas não viam essas punições no meu país. É um fenômeno novo, de "islamismo político", algo intimamente conectado à política que passou a interferir na vida dos iranianos com a Revolução de 1979.

Em que países, além do Irã, a aplicação dessas leis é mais dura?

Temos problemas assim no Sudão, na Somália, no Afeganistão, mas acho que a Arábia Saudita é um dos piores países no que diz respeito aos direitos das mulheres. Lá elas são proibidas de fazer qualquer coisa, as pessoas são decapitadas em praça pública e não ouvimos nenhum protesto internacional.

O apoio do Ocidente é um fator que contribuiu com o início desses protestos?

Talvez isso tenha algum peso. Mesmo sobre os casos iranianos pouco se falava até recentemente. Os Estados Unidos, por exemplo, não são aliados de Mahmoud Ahmadinejad e também não tocavam no assunto dos direitos humanos até que o caso de Sakineh Ashtiani ganhou dimensões mundiais. Só há interesse em falar sobre a questão nuclear com o governo iraniano. Alguém já ouviu algum protesto de Bill Clinton ou de outros presidentes anteriores sobre o apedrejamento? Ninguém nunca se manifestou.

Então não há interesse do Ocidente em tratar da questão dos direitos humanos?

Falei com líderes europeus, com a ONU, com o Parlamento Europeu e sempre vi pouquíssimo interesse. O que vi nos últimos 20, 30 anos é que os interesses econômicos são os mais importantes nessas relações. Todos concordam que são práticas muito ruins, mas parece que fazem vista grossa para o problema. Pensam que é algo normal por se tratar de um país islâmico, mas esse relativismo cultural é problemático, pois mostra uma mentalidade de que os direitos humanos não são universais, eles dependem de onde você vem.

A primavera árabe vai ter algum efeito sobre o direitos das mulheres nesses países?

Depende. Resta saber se os novos líderes serão seculares ou fundamentalistas. É importante começarmos um movimento internacional para que grupos que apoiem os direitos humanos em geral cheguem ao poder na Líbia, no Egito e nos outros países. Sempre tive esperança de que essa luta começaria.

Por Jefferson Nóbrega - Blog Candango Conservador 
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