domingo, 12 de junho de 2011

Israel x Síria: fatos reais ou ferramentas de propaganda?

Mais uma vez, uma avalanche de notícias apresentam Israel como agressor responsável pela morte de dezenas de civis desarmados.

Isso se trata, realmente, de um protesto pacífico ou uma nova tentativa da engenharia síria para violar a fronteira de Israel? Em que situação a mídia acertou? Onde falhou?


MEIOS DE COMUNICAÇÃO SÍRIOS: UMA FONTE CONFIÁVEL?

Durante muitas semanas, os meios de comunicação controlados pelo Estado Sírio (e tudo é controlado pelo Estado) não informaram sobre o levante brutal, os assassinatos do presidente Bashar Al-Assad, contra os seus próprios cidadãos que protestavam pacificamente contra o regime sírio. Então, por que a mídia se apressou em citar, agora, a taxa de mortes fornecida pelos meios de comunicação sírios, sem levar em conta a falta de uma confirmação concreta do número de mortos ou feridos do outro lado?


Por exemplo, o New York Times informou:
Ao cair da noite, a agência de notícias síria SANA reportou que 22 manifestantes haviam sido assassinados e mais de 350 feridos. Funcionários israelenses disseram que não tinham informação sobre vítimas, mas comentaram que os números fornecidos pela Síria eram exagerados.

Ainda assim, foi o pior derramamento de sangue nas Colinas de Golã desde que Israel e Síria se enfrentaram em guerra no ano de 1973.


Portanto, a agência de notícias oficial da Síria, que tem todas as razões para inflar o número de vítimas, informa que 22 pessoas foram assassinadas pelas tropas israelenses. Israel diz que se opõe à taxa. A operação de informação israelense está distante de ser perfeita, mas é muito melhor que a operação de informação do regime de Assad - onde o ceticismo acerca desses dados é, sem dúvida, justificado.

No entanto, o Times continua este parágrafo ambíguo sobre o número de mortos com uma declaração: "Ainda assim, foi o pior derramamento de sangue nas Colinas de Golã desde que Israel e Síria se enfrentaram em guerra no ano de 1973." Como é que o Times sabe? Como é que o Times sabe quantas pessoas morreram? A única fonte da taxa de mortos provém do aparato de propaganda do regime de Assad.

MANIFESTANTES OU INFILTRADOS?

Os eventos em Golã aconteceram de forma similar aos ocorridos há um mês, na chamada Nakba - onde a imprensa cobriu da mesma maneira. Muitos afirmaram que Israel abriu fogo contra "manifestantes". Mas essa não era para ser sua função quando estava sendo planejada, nem foi pacífica. Foi uma tentativa de violação,  num ato de hostilidade, das fronteiras de Israel.

O termo "manifestantes" traz à memória ativistas carregando cartazes, no lugar do termo mais preciso "agitadores" - que lançaram coquetéis Molotov e pedras, e que enfrentaram soldados israelenses na tentativa de entrar em Israel.

Qualquer infiltração deve ser levada a sério e é assim que a imprensa deveria tratar esses incidentes: como uma tentativa de violação ilegal nas fronteiras de uma nação soberana.


Apesar disso, Karl Vick, da Revista Time, escolheu enquadrar o incidente da seguinte maneira:
As imagens da televisão no domingo, da aldeia Majdal Shams nas Colinas de Golã, mostraram civis palestinos aparentemente desarmados, que marcharam pacificamente por um morro até chegarem nos soldados israelenses que haviam assumido posição de tiro. Logo veio um barulho de disparos, corpos ensanguentados foram levados de volta do morro. Isso durou horas, com 20 pessoas mortas segundo a televisão estatal síria. O custo humano foi elevado, mas para um movimento palestino que procurava se recompor, ao menos as filmagens, comparadas aos traços de Birmingham, de Soweto e da marcha de Gandhi, são fatos paralelos de forma explícita.

Além da falsa apresentação dos palestinos como cúmplices de Gandhi, essa descrição, sem dúvida alguma, não corresponde com as informações de outros meios de comunicação, que confirmaram que as Forças de Defesa de Israel (FDI) haviam emitido advertências claras em árabe e lançado gases lacrimogênios antes de disparar acima das cabeças dos palestinos - na tentativa de convencê-los a parar. O uso de fogo real, então, é somente utilizado de forma seletiva, foi somente um último recurso.

"REFUGIADOS" PALESTINOS


O Daily Telegraph informou:
Os manifestantes disseram que esperavam fazer o mesmo que Hassan Hijazi, que conseguiu chegar ao seu antigo lar na cidade costeira israelense de Jaffa depois do último protesto antes de se entregar à polícia.

De fato, Hassan Hijazi, como todos os palestinos envolvidos na infiltração da fronteira em maio, nunca havia colocado, antes, um pé dentro de Israel e, portanto, não poderia estar tratando de chegar ao seu "antigo lar". A maioria dos palestinos envolvidos em maio e neste último incidente, são descendentes de segunda e terceira geração dos refugiados palestinos transferidos em 1948.



De maneira similar, o Times de Londres (com assinatura somente) informou:
Os protestos de ontem tiveram a intenção de marcar Naksa, o aniversário da Guerra dos Seis Dias, na qual Israel anexou a Cisjordânia e as Colinas de Golã. Muitos dos manifestantes eram palestinos que não puderam regressar aos seus lares durante décadas.

Além de acreditar incorretamente que eram os palestinos que procuravam "retornar" aos seus lares, os quais nunca haviam deixado, em primeiro lugar, a periodista do Times, Sheera Frenkel, também declarou erroneamente que Israel anexou a Cisjordânia. Israel, de fato, nunca anexou a Cisjordânia, em vez disso, administrou e não incorporou a Cisjordânia ao Estado de Israel.

Por mais que possa parecer uma questão ínfima, é importante utilizar os muitos argumentos legais em torno da situação dos territórios capturados em 1967.

Enganosa informação, tal como os exemplos anteriores, servem apenas para promover a demanda palestina de um "direito ao retorno" e de induzir ao erro a respeito da situação dos territórios palestinos.


Enquanto isso, a CNN segue acreditando que Gaza, controlada pelo Hamas, está debaixo da "ocupação" israelense:
Israel fechou acordos de paz com as outras duas integrantes da guerra dos Seis Dias em 1967, Egito e Jordânia, mas segue ocupando os territórios palestinos de Cisjordânia e Gaza, assim como as Colinas de Golã.

MAQUINAÇÃO DA MÍDIA

O Partido Reformista da Síria aprendeu hoje, segundo fontes de inteligência próximas ao regime de Assad no Líbano, que os sírios que atacaram através das Colinas de Golã, junto à passagem de Quneitra, são agricultores sírios que emigraram nos últimos anos do nordeste da Síria até o sul, afetados pela seca. Estima-se que o número é de 250 mil imigrantes empobrecidos.

A informação recebida cita que o regime pagou a centenas desses agricultores US$ 1000 para cada um ir até lá - e US$ 10.000 para as suas famílias no caso de alguns deles morrerem sob fogo israelense. Na Síria, um salário está na média de US$ 200 por mês e para esses camponeses empobrecidos, tal recompensa pode mantê-los estáveis economicamente durante seis meses.


Inclusive o The Guardian, fazendo referência à violência prévia ocorrida durante o dia chamado "Nakba" na fronteira com o Líbano, reconheceu a possibilidade de que os manifestantes árabes tenham sido motivados por dinheiro ao invés de sua própria ideologia:

Um manifestante que foi ferido nesse dia disse ao Guardian que a milícia libanesa Hezbollah havia dado US$ 50 por se apresentar na fronteira e US$ 900 pelas feridas por arma de fogo e pelos tratamentos médicos. Disse que estava planejando voltar a Marun al-Ras ontem até que a marcha fosse cancelada.


Dominic Waghorn, da Sky News, também ressaltou:
Os ônibus com manifestantes só chegaram à zona fronteiriça porque as autoridades deram permissão a eles. Eles podem ter sido organizados pelo regime ou, ao menos, estimulados pelo mesmo [...]

Os trágicos acontecimentos foram transmitidos ao vivo pela televisão estatal síria, em claro contraste com o encobrimento realizado pelos meios de comunicação do governo sírio durante a ofensiva militar que era travada contra o seu próprio povo no interior do país, que matou centenas de pessoas.

"Jornalistas" pareciam estar recuperando sua capacidade de contar os corpos declarando que ao menos vinte foram assassinados.

Enquanto o mundo olha para as fotos de Golã, se distrairá da história maior, o massacre da Síria contra o seu próprio povo e o desaparecimento gradual do regime de Assad.


El Mundo (Espanha) também citou fontes da televisão estatal da Síria e, entre muitas informações, destacamos:
Nas últimas semanas, tanto nos campos de refugiados da Síria e do Líbano como nos campos do Facebook e Twitter, os palestinos advertiram: "Derrotaremos o inimigo sionista e voltaremos aos nossos lares em 5 de junho.


Na Venezuela, observamos que o El Universal inicia seu artigo com a seguinte frase:
Soldados israelenses dispararam ontem contra centenas de manifestantes pró-palestinos que tentaram ingressar nas Colinas de Golã a partir da Síria, matando 20 pessoas e ferindo dezenas.

Na Argentina, Urgente 24 publicou o que aconteceu de forma muito dura:
Duríssima repressão israelense no dia de Naksa

Também utilizou as informações dos meios de comunicação sírios, mas em alusão ao ocorrido em maio, escolheu culminar seu artigo com:
No dia 15/05, 2 pessoas morreram e outras 170 ficaram feridas durante outra marcha de luto para os palestinos, que recordavam seu exílio após a fundação do Estado israelense, em 14 de maio de 1948.


Enquanto isso, El Comercio (Peru), utilizou uma notícia da Agência EFE, onde esclarece que os porta-vozes do exército de Israel "efetuaram disparos ao ar e advertências verbais" para impedir que os manifestantes se aproximassem da divisa.

NO BRASIL

O portal de notícias G1 informou o alerta prestado pelos soldados israelenses e apresentou brevemente o sistema de contenção promovido por Israel. Mas é claro, não deixou de utilizar os meios de comunicação sírios - com breves contribuições da agência AFP - como base para a elaboração das notícias. A tentativa de mostrar um gigantismo por parte de Israel e um desfavorecimento pelos invasores é notável.
De acordo com a radio estatal de Israel, soldados israelenses que se encontram na região da aldeia de Majd El Shams, nas Colinas de Golã, junto à fronteira com a Síria, utilizam alto-falantes para advertir os manifestantes que vêm da direção da Síria, de que irão "atirar em quem tentar romper a fronteira" [...]

A repórter militar da rádio estatal de Israel, Carmela Menashe, disse que fontes do Exército israelense garantem que as tropas foram orientadas a "agir com contenção para restringir o numero de feridos".

Ali Kanaan, um médico que estava na região, repassou à Sana os nomes das pessoas falecidas, que receberam "tiros na cabeça e no peito" [...]

A televisão síria exibiu imagens de vários jovens tentando escalar uma cerca de arame farpado. Outras imagens mostraram soldados israelenses em um tanque atirando contra os sírios [...]

Em suma, o G1 apresentou uma visão devidamente moderada, levando em conta a utilização do incidente por parte de Bashar Al-Assad para distração dos conflitos internos.O problema evidente é a contraditória utilização dos números de mortos fornecidos pelos sírios - que marcaram as progressivas publicações do portal de notícias brasileiro - e a dramatização evidente.


No portal R7, os seguintes destaques:
Participantes dos protestos entrevistados pelo canal sírio afirmaram que a intenção é invadir o território israelense para hastear a bandeira da Síria em Golã.

A cobertura das manifestações deste domingo contrasta com a falta de imagens das revoltas populares sírias contra o regime de Assad que começaram em março e nas quais morreram mais de mil de pessoas.

De acordo com a agência de notícias estatal síria, Sana, soldados israelenses avisaram, em árabe, que “qualquer um que tentar atravessar a fronteira será [seria] morto”. Os soldados utilizaram gás lacrimogênio e posicionaram franco-atiradores próximos ao alambrado para impedir os manifestantes de se aproximarem dos territórios ocupados.

Até aí, dentro de tudo o que já foi abordado anteriormente. Mas a agência Sana continua:
A imprensa síria também afirma que os israelenses atiraram contra ambulâncias e equipes de bombeiros que tentavam prestar socorro às vítimas.

Fontes sírias relataram que 23 pessoas morreram no episódio e mais de 200 ficaram feridas.



A BBC Brasil noticiou que o incidente deixou 22 mortos e pelo menos 300 feridos, afirmou o canal estatal sírio.


O Estadão reportou o seguinte:
Subiu para 20 o total de mortos e para 325 o de feridos hoje no ataque de militares israelenses em uma área disputada da fronteira com a Síria para dispersar um protesto pró-Palestina, informou a TV estatal síria.

Israel havia se comprometido a evitar hoje a repetição de um episódio semelhante, ocorrido no mês passado. [...] Na ocasião, morreram mais de dez pessoas.

Percebe-se a inclinação do Estadão em apontar para os israelenses dizendo: "Israel se comprometeu a evitar o que ocorreu durante a chamada Nakba, onde morreram mais de dez pessoas. Mas hoje já morreram 20." Como se Israel fosse o culpado pelo que veio ocorrer. Sem falar que aqui o número de mortos e feridos é apresentado pela TV estatal síria, mais um fator a ser considerado.

O QUE ACONTECEU REALMENTE?


Depois de investigar o incidente, as FDI acreditam que muitos dos manifestantes sírios foram os responsáveis pela sua própria morte ao acenderem campos minados na fronteira. Ynet News informa:
Em resposta à violência do domingo, fontes da FDI disseram que os manifestantes que ativaram mintas nos campos durante o Dia de Naksa não trouxeram os extintores de incêndios com eles, portanto, representaram um perigo para si mesmos e para com os demais com um comportamento irresponsável. Outros lançaram bombas de fogo próximo à passagem de Quneitra com a mesma intenção, disseram.

As fontes também estão assumindo que muitos dos manifestantes foram feridos ou mortos como resultado da incapacidade da Cruz Vermelha de chegar neles, devido à negação dos participantes de cessarem a violência para permitirem os atendimentos médicos.

Funcionários das FDI afirmam que os comandantes ordenaram três cessar-fogos, cada um para que os manifestantes aproveitassem para ganhar espaço.

Qualquer que seja a verdadeira história por trás do ocorrido na fronteira entre Israel e Síria, uma vez mais Israel se encontra prejudicado pelos meios de comunicação que se apressaram a produzir matérias sensacionalistas baseados nos menos creditáveis órgãos de propaganda de uma ditadura brutal, que não leva em conta sua própria gente e muito menos os trabalhadores palestinos em sua guerra contra Israel.

Fonte: ReporteHonesto
Tradução, adaptação e acréscimo de notícias brasileiras: Jônatha Bittencourt - De Olho na Jihad/Cessar-Fogo




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