terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ataques no Natal aumentam tensão entre cristãos e muçulmanos na Nigéria

(AFP) – LAGOS — Os ataques e atentados com explosivos que causaram a morte de pelo menos 86 pessoas na Nigéria desde a noite de Natal deram uma nova dimensão às tensões entre cristãos e muçulmanos neste país.

Os confrontos ocorridos no Natal no centro da Nigéria, onde convivem cristãos e muçulmanos, deixaram 86 mortos, superando em mais que o dobro as cifras fornecidas até agora, segundo informou nesta terça-feira uma agência governamental.

A polícia, que informou sobre 35 mortos (32 na sexta-feira e três no domingo) em Jos, continua afirmando que o saldo é muito menor que o fornecido por esta entidade governamental, a Agência Nacional de Situações de Emergência, que insiste que seus dados, obtidos em hospitais, são corretos.

Uma onda de enfrentamentos foi registrada no fim de semana na Nigéria e três igrejas foram atacadas no norte do país.

Jos, capital do estado de Plateau, fica no meio do caminho entre o norte predominantemente cristão e o sul, habitado majoritariamente por comunidades cristãs.

Um grupo islamita, que pode ser a seita Boko Haram, reivindicou nesta terça-feira em um site os atentados.
O grupo, que promoveu uma sangrenta sublevação em 2009, advertiu que continuará atacando os "ímpios e seus aliados".

"Nações do mundo, saibam que os ataques de Suldaniyya (Jos) e Borno na véspera do Natal foram cometidos por nós, Jama'atu Ahlus-Sunnah Lidda'Awati Wal Jihad", diz a declaração postada na internet.
O nome do grupo significa "Povo consagrado aos ensinos do Profeta para a propagação da guerra santa" (Jihad).
Os atentados marcam "o começo das vingança depois das atrocidades cometidas contra os muçulmanos nessas regiões e no país", afirma o comunicado.

"Seguiremos atacando os ímpios e seus aliados e todos aqueles que os ajudam até o triunfo de Alá", conclui o texto.

O Papa Bento XVI denunciou no domingo a "violência absurda" contra cristãos depois dos ataques contra cristãos nigerianos.

Os confrontos intercomunitários deixaram nos últimos anos centenas e mortos em Jos e seus arredores. No entanto, os atentados a bomba ocorridos na sexta-feira passada são os primeiros desse tipo. O uso de explosivos representa uma intensificação da crise, segundo Chidi Odinkalu, diretor do programa africano da Open Society Justice Initiative, uma ONG que promove os valores democráticos.

Grupos de defesa dos direitos humanos nigerianos afirmam que mais de 1.500 pessoas foram vítimas da violência entre cristãos e muçulmanos apenas este ano.

As eleições na Nigéria estão marcadas para o mês de abril, e observadores internacionais já alertaram para um aumento da violência ligado à aproximação do pleito.

O presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, prometeu no sábado que o governo faria todo o possível para que os responsáveis pela morte de "nigerianos inocentes, tanto cristãos quanto muçulmanos", fossem levados à justiça.

Mas, para muitos militantes dos Direitos Humanos, o Estado nigeriano é incapaz de levar ante a justiça os autores da violência em Jos, seja por razões políticas ou outra qualquer razão.

Para os observadores, a tensões nigerianas são o resultado de uma complexa mistura de problemas étnicos, religiosos, políticos e econômicos.

O colonialismo britânico e sua herança de fronteiras artificiais também têm um papel importante na situação.
Na região de Jos, os Beroms e outras etnias cristãs se julgam os autóctones da região, enquanto que os muçulmanos Hausas e Peuls são tidos como os "colonos", mesmo que tenham chegado ao centro do país há várias décadas.

Os Hausas se instalaram na região de Plateau (centro) para trabalhar na indústria do estanho há mais de um século. Os Peuls, que são nômades, chegaram à zona buscando pastos para alimentar seu gado.
Estes dois grupos étnicos se mesclaram para depois combater os Beroms, a fim de tomar o poder político e econômico da região.

Os observadores opinam que muitos políticos utilizam esta situação incitando as diferentes etnias à violência e recrutando jovens sem emprego e mergulhados na pobreza.

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